As alterações de olfato são bastante comuns entre pessoas infectadas pelo novo coronavírus e parecem ser mais prevalentes nos casos leves da doença.
De acordo com um artigo recente publicado no Journal of Internal Medicine, a maior parte dos pacientes que tiveram covid-19 leve apresentaram perda de olfato. Além disso, é um sintoma mais comum em pacientes jovens.
Os pesquisadores da área especulam que a anosmia (perda de olfato) pode ser um sinal de evolução da doença com sintomas leves. A hipótese é de que esses pacientes apresentam uma maior reação inflamatória local (nasal), o que poderia limitar a disseminação do vírus pelo organismo. Contudo, trata-se apenas de uma hipótese que ainda precisa ser melhor investigada.
Neste mesmo estudo, os pacientes recuperaram o olfato após 21 dias do início do sintoma, em média. No entanto, cerca de 5% das pessoas não recuperaram a função olfativa em seis meses.
As alterações do olfato podem ser quantitativas – anosmia, que é a perda total do olfato, ou hiposmia, que é a perda parcial dele – e estas são as mais vistas durante a fase aguda do Covid – ou qualitativas, como a parosmia, que é a distorção dos odores, ou cacosmia, quando o paciente sente cheiros desagradáveis onde não há.
A alteração de olfato se instala em geral subitamente ou em poucas horas e pode se manifestar isolada ou em associação com outros sintomas sistêmicos. Comumente ocorrem concomitantemente alterações no paladar (ageusia, disgeusia, hipogeusia).
A mucosa olfatória está localizada no topo da cavidade nasal – é ali que os odores são percebidos e transmitidos ao sistema nervoso central. No caso da infecção pelo coronavírus, as células do nervo olfatório sofrem um processo inflamatório, comprometendo a capacidade de sentir e reconhecer cheiros.
Recuperação
A primeira preocupação dos pacientes costuma ser quando o olfato vai voltar e, claro, se vai voltar efetivamente. A boa notícia é que a grande maioria dos pacientes recuperam o sentido (estudos demonstram que 70% recuperam o olfato em 30 dias). Muitos melhoram espontaneamente, sem intervenção alguma, porém, não sabemos quem vai evoluir assim. Por isso, é interessante avaliar tratamento para todos os pacientes.
Ressaltamos que, em alguns casos, a perda do olfato é permanente – estudos apontam que isso ocorre em até 5% dos pacientes acometidos pelo covid.
Tratamento para perda de olfato
O treinamento olfatório é uma das terapias utilizadas na tentativa de recuperar o olfato.
Ele deve ser iniciado o mais breve possível – assim que o paciente notar a perda ou alteração do sentido, mesmo que ainda esteja no período do isolamento domiciliar preconizado por conta da infecção ativa.
Esse tratamento não tem contra indicações, mas não pode ser feito com qualquer produto.
Pode ser feita com produtos caseiros – especialmente importantes durante o isolamento – ou com óleos essenciais.
Cada sessão inclui a exposição rotativa a odores por 10 segundos, com intervalo de 15 segundos entre elas, até que se complete 5 minutos. Isso deve ser feito 2 vezes ao dia.
Os produtos caseiros validados por estudos que ajudam na recuperação do olfato são:
- Café (pó ou grãos);
- Essência de baunilha;
- Mel;
- Cravo;
- Pasta de dente de menta;
- Suco concentrado de tangerina ou maracujá e;
- Vinagre de vinho tinto.
Essas essências devem ser acondicionadas em pequenos frascos com tampa e nunca deve-se realizar o treinamento olfatório diretamente na embalagem original.
Muitos pacientes acreditam que produtos fortes podem ser mais eficientes para a recuperação do olfato, porém, não é o que ocorre. Produtos como vick (medicamento), álcool, gasolina, acetona, hipoclorito, fumaça ou pimenta acabam por atrapalhar na recuperação do sentido.
Se as alterações de olfato persistirem após o período de isolamento pelo Covid (10-14 dias), consulte com um médico otorrino para avaliar a gravidade dos danos e as possibilidades de tratamento. Além do treinamento olfatório, há tratamentos medicamentosos que serão prescritos de forma individualizada e podem ajudar na recuperação do sentido. Esse acompanhamento com o especialista é importante para auxiliar na recuperação do olfato e devolver a qualidade de vida ao paciente.